Os Paralamas do Sucesso, a Emoção e a Aprendizagem
- Geografando
- 2 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de set.
Evidências da neurociência para uma aprendizagem efetiva
“A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o busto de uma deusa maia
Metade um grande rabo de baleia.”
Quando Herbert Vianna começou a cantar esses versos no show que assisti no último fim de semana, fui imediatamente transportado para a sala de aula. Era a década de 90, e a professora Isabel conduzia uma atividade de interpretação de texto.
Naquele dia, a letra de A Novidade estava impressa no livro. Cada aluno lia uma estrofe em voz alta, e depois éramos convidados a refletir sobre o que Gilberto Gil quis expressar com suas metáforas.
Em uma única aula, aprendi português, literatura, artes, história, sociologia e até geografia. Não precisei rever o material para fixar o conteúdo. A experiência foi tão marcante que permanece viva em minha memória até hoje.
Talvez você também já tenha vivido algo parecido. Mas por que isso acontece? E o que essa relação entre emoção e lembrança revela sobre a aprendizagem?
O que acontece no cérebro quando aprendemos
A neurociência mostra que aprender significa formar novas conexões entre neurônios (Amaral & Guerra, 2022). Essas conexões criam circuitos que podem ser reativados com facilidade no futuro, tornando o conhecimento acessível quando precisamos dele. Esse processo, no entanto, exige tempo, energia e reorganização de sinapses.
Mas não basta que os neurônios se conectem: é preciso que essas conexões sejam fortalecidas. E isso acontece, principalmente, de duas formas:
1. Emoção
Quando um aprendizado está carregado de emoção, seja positiva ou negativa, o cérebro o marca com intensidade. Emoção e cognição são inseparáveis: aprendemos aquilo que nos toca, que faz sentido, que percebemos como relevante para nossa vida.
2. Repetição
Também é possível fixar informações pela repetição, o famoso “decorar”. Funciona, mas de forma menos duradoura e menos significativa do que quando o aprendizado envolve emoção.
Esses elementos mostram que emoção e cognição não atuam de forma separada, mas se combinam para dar sentido à experiência e transformar conhecimento em aprendizagem.

Aprender não é apenas memorizar
É importante diferenciar: aprendizagem é adquirir conhecimento, enquanto memória é a capacidade de manter esse registro. A memória de trabalho, por exemplo, é fundamental para raciocínio e compreensão.
Além disso, vários processos cognitivos atuam juntos para que a aprendizagem aconteça:
Atenção: filtra estímulos relevantes.
Motivação: coloca o cérebro em ação e sustenta o esforço.
Funções executivas: permitem planejar e adaptar estratégias para alcançar objetivos.
Neuroplasticidade: garante que novas conexões possam ser criadas ao longo de toda a vida.
O que realmente nos faz aprender
Em resumo, aprendemos de verdade quando nossos neurônios criam conexões fortes e facilmente reativáveis. Essas conexões se consolidam com mais intensidade quando associadas à emoção e, de forma menos robusta, pela repetição.
Por isso, experiências como aquela aula da professora Isabel, em que uma música despertou curiosidade, reflexão e encantamento, permanecem vivas em nós.
A emoção é a porta de entrada da aprendizagem. Aprender é sentir.
Referências
Neurociência e educação: Olhando para o futuro da aprendizagem. Amaral, A. L. N., & Guerra, L. B. (2022). SESI/DN.
Neurociência e educação: Memória, atenção e aprendizagem. Chedid, K. (s.d.). Comunidade Reinventando a Educação.
Práticas para a sala de aula baseadas em evidências. Orsati, F. T. et al. (2015). Memnon Edições Científicas.
Nice insights ; )